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Para esta reflexão, convido você a imaginar duas famílias vizinhas no mesmo andar de um prédio. Embora não compartilhem laços sanguíneos, cultivam uma proximidade notável e afinidades em diversos aspectos. Essa é a imagem que me vem à mente quando penso na minha relação com a Igreja Católica.
Nascido e criado em um lar evangélico, sempre convivi com muitos católicos e acompanhei de perto a trajetória da Igreja Católica através das notícias. Assim como os moradores de um condomínio inevitavelmente observam os hábitos e o cotidiano uns dos outros, percebi inúmeras semelhanças – o Cristianismo como base – mas também diferenças, as quais, em minha visão, não hierarquizam as religiões.
Nessa jornada de observação, firmei a convicção de que testemunhamos o pontificado do Papa Francisco, o mais notável da história.
Desde a escolha de seu nome, Francisco sinalizou uma ruptura com o convencional. Pela primeira vez, um Papa optou por seguir os passos do santo mais humilde e despojado da Igreja.
Assim como São Francisco renunciou à opulência familiar, o Papa recusou os luxos vaticanos, estabelecendo residência na Casa Santa Marta, um ambiente despretensioso com um quarto de mobília simples.
Sua voz ecoou em defesa dos pobres, dos imigrantes, contra as guerras, clamando por paz. Em seus últimos dias, desafiando recomendações médicas de repouso absoluto, visitou uma prisão, buscando aqueles à margem da sociedade. Sua saúde debilitada o impediu de realizar o rito do lava-pés, um desejo que certamente acalentava.
Sua marca era a acolhida calorosa e a proximidade com o povo. Sua humildade se manifestava no pedido constante de orações e na preferência pelo título de Bispo de Roma, em vez de Papa Rei.
Implementou reformas significativas na Igreja, preservando, contudo, sua doutrina fundamental. A exceção notável foi a firme condenação de qualquer forma de pena de morte.
Essas mudanças geraram descontentamento e oposição na ala conservadora da Igreja. Por outro lado, muitos criticavam a lentidão das transformações, talvez sem compreender os limites do poder papal, que, a exemplo da política, exige concessões para avançar em objetivos maiores.
Uma das declarações mais surpreendentes e impactantes de Francisco, ainda no início de seu pontificado, foi sua resposta à questão sobre os homossexuais: “Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgar?”. Essa postura permeou todo o seu papado. Francisco distinguiu a condenação dos atos homossexuais do respeito e da dignidade das pessoas LGBTQIA+, chegando a autorizar a bênção de casais do mesmo sexo, desde que não configurasse um rito matrimonial e não integrasse as liturgias da Igreja.
Seu legado reside em uma Igreja acolhedora e inclusiva, uma “Igreja mãe” que recebe seus filhos como são, para então aconselhá-los e doutriná-los no caminho do bem.
Ao chegar à Basílica Santa Maria Maggiore, onde foi sepultado, o corpo de Francisco foi recebido por um grupo singular de 40 pessoas: pobres, sem-teto, presos, transgêneros e migrantes, cada um com uma rosa branca. Segundo o Vaticano, essa homenagem visava “valorizar de alguma forma a presença dos pobres no funeral”, reunindo uma representação das “diversas categorias de pessoas frágeis, carentes”, como moradores de rua, migrantes, detentos ou ex-presidiários e famílias pobres. A intenção era que suas pessoas prediletas o acompanhassem em seus últimos passos.
Assim como o Vaticano prestou essa tocante homenagem, esperemos que o novo Papa, a ser eleito em breve, siga os exemplos luminosos deixados por Francisco.
O mundo atravessa um período que clama por uma Igreja acolhedora, protetora e redentora. Uma Igreja que se una à voz dos pobres, dos famintos, dos expulsos de suas terras, dos marginalizados pela sociedade.
Somente assim poderemos vislumbrar dias melhores, para sempre!
Abraços, Sam.